sábado, 28 de fevereiro de 2009

CONFISSÃO

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Mário Quintana


LIQUIDAÇÕES



Vim à praia em busca do sol.
Acho que cheguei tarde: o sol já acabou.
Chuva tem bastante, vai querer?
Tá bom, me dá uma!




quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

VAI UM CAFEZINHO?

Eu não gostava de café, mas depois que provei gostei!
Tem gente que não gosta,
mas toma quando bate o desânimo.

Tem gente que odeia, mesmo sem nunca provar.
Tem gente que diz que não precisa disso para se animar.
Tem gente que é viciado, dois, três, nada sacia;
tem outros que não passam do primeiro.
Tem os que bebem bem quente, pelando,
não se importam se a língua queimar;

outros esperam horas...até esfriar.
Uns preferem puro, outros com chocolate;
uns pingam leite outros, conhaque.
Tens o que colocam açucar para melhorar o paladar;
tens o que bebem amargo, para nada disfarçar!
Tens o que deixam tudo na taça;
tem os que lambem o pires.
Tem os que sorvem ao goles;
tem os que entornam a xícara.
Terapia é assim também.
Terapia é café forte!
ACORDA!


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

FÊNIX

Hoje 2008 deu seu último suspiro, queimou todinho...
Virou cinzas!
Parece estranho, mas para muita gente o ano começa agora.
Dão um tempo entre o 31 de dezembro e o carnaval...
Postergam os planos que fizeram no Ano Novo.
Adiam os começos que se propuseram.
Tiram férias da vida...
Se permitem serem os mesmos que sempre foram.
Anistiam-se dos erros que reconheceram que fizerem no ano passado.
Pagam a sua própria fiança, mesmo sabendo que o julgamento é logo ali...
em pleno carnaval!
2009 não deveria entrar em 1º de janeiro, deveria vir o 2008,5 e, aí sim...

entrar 2009 feito FÊNIX, na quarta-feira de cinzas.
Com certeza, as pessoas se sentiriam menos culpadas!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

NÃO GOSTO DE FERIADOS...



Não gosto de feriados...
Deve ser por que há muito tempo feriado nunca é feriado para mim.
Deixa eu explicar: quem trabalha quando todos descançam, odeia feriados!
Os dias normais ficam em pé no calendário.
Feriados se sentam, ocupam espaço.
Feriado de carnaval então, nem se fala... ele se deita!
Talvez os médicos sejam os que mais abominem feriados....ainda não li nada que comprove isso cientificamente, mas com certeza daria uma boa tese de mestrado.
Feriado é o vermelho da sinaleira para quem normalmente dirige na cidade.
Que faz parar aqueles que andam sempre numa free-way, a 100km/h?
Médicos acostumaram-se a parar só em momentos de pane...
Só param quando a máquina estraga!
Acidentes, só com outros...
nos envolvemos neles só para salvar outras máquinas.
Nós entendemos de máquinas!
Médicos nunca se dão conta quando a sua máquina estraga.
Não costumam revisar suas máquinas.
Enquanto tinham a mãe como dono, funcionavam que era uma beleza!
Revisão dos 1.000km, revisão dos 10.000km, revisão dos 20.000km....tudo feito na concessionária, com direito a certificado de garantia e a reposição de peças originais.
Mães só levam seus carros em concessionárias.

Nós, quando assumimos o volante, tiramos do porta-luvas o manual do proprietário.
Consertamos tudo na garagem de casa, quando muito vamos no mecânico da esquina.
Sempre temos pressa, temos que ficar prontos para o mesmo dia, senão, trocamos de oficina.
Quando a luz do óleo acende....fingimos que não vemos.
Agora não dá para parar, o acostamento é muito estreito.
O máximo que conseguimos é, por um breve trecho, diminuir a velocidade, imaginando um pardal a frente para justificar os 60km/h.

Médicos deveriam cuidar mais de suas máquinas, afinal consertam a dos outros todos os dias.
Médicos deveriam abandonar as free-ways, usar mais as estradas secundárias.
Deveriam aproveitar a paissagem.
Parar nas banquinhas para comprar batatas, uvas, rapadura.
Usar mais as áreas de recuo, descer do carro, esticar as pernas.
Escutar o rádio bem alto.
Voltar a usar as concessionárias.
Carro revisado é mais valorizado na troca.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O BIG BEN DE SAIA

Ela era o Big Ben de saia. Sem atrasos ou adiantados da hora. Tudo na mais perfeita ordem, sempre! Tudo priorizado milimetricamente. Estudar, se formar, casar e trabalhar. Talvez casar fosse forte demais... encontrar um amor combinava mais com ela. Filhos? Sim, mas suas engrenagens deveriam estar mais afinadas, conhecidas para receber esta nova pecinha. Agora, definitivamente não era hora... não era hora!
Ela estudou, se formou, encontrou uma amor e trabalhou. O relógio parou. Era a primeira fez que ele parava assim tão repente. Não era o trabalho que ela queria. Ela sempre planejava tudo com a antecedência de um calendário de eventos da secretaria de cultura. Pensou, pensou. Adiantou o relógio. Pulou o tempo. A vida permite isso, ainda que às avessas. Teria que correr para recuperar as horas. E correu, sempre teve muito fôlego, não ia ser agora que ele lhe faltaria. Emparelhou os ponteiros. Agora sim, estava feliz. Tudo nela funcionava maravilhosamente bem. Lembrou daquela pecinha. Não... agora vou aproveitar as minhas horas.
Fez escova progressiva. Comprou roupas novas. Mudou de perfume.Tratou a sua gastrite. Queria estar linda também por fora. Escondeu o ácido fólico no armário. Ácido fólico lembrava a pecinha...agora não, ela já tinha dito.
O relógio começou atrasar. Estranhou. Seu relógio nunca tinha atrasado antes. Custou a se dar conta que a pecinha já estava dentro dela. Chorou de tristeza. Chorou de alegria. Quase fundiu a máquina de tanto pensar. Perdeu chão e o achou de novo. Ela que era o "manual de organizações e métodos", tinha falhado.
Filhos não são relógios. Filhos chegam a qualquer hora. Eles têm a sua hora. Nos fazem perder as horas, nos acrescentam horas. Filhos brincam com tudo até com o tempo. Tiram a importância do tempo. Eles serão o nosso tempo daqui pra frente. Como é bom perder nosso tempo e ganhar o deles. Esqueceremos dos segundos, dos minutos, das horas. Viveremos no tempo deles e nem sentiremos falta do nosso. Filhos são mais que isso. Filhos são água benta. Abssolvem as mães de todos os pecados.



ENTRE TACOS E BEIJOS...

Tenho um grupo de amigas do trabalho que se reune uma vez por mês.
Uma vez por mês, faça sol ou faça chuva...estamos lá.
Nem sempre a presença é 100%, mas quem vai se encarrega de preencher as ausências.
À mesa, conversas se fiam, risadas se soltam e sonhos se compartilham.

Nossa último encontro foi em um restaurante mexicano.
Neste dia soubemos que uma delas estava grávida.
Brindamos todas...
Vidas são sempre bemvindas!
Durante a janta escutei atentamente o que a futura mãezinha contava...ela que era sempre tão certinha em tudo, não percebeu que estava grávida e fez tudo errado no início...como pôde?
Não se perdoava.
Fui para casa pensando naquilo e...
na manhã seguinte, pari "O BIG BEN DE SAIA"

AS FRASES DA MINHA LUA...



Não "sou de lua",
mas tenho as minhas fases, ou melhor, FRASES...

" NUNCA SE DEVE CAMINHAR,
QUANDO O IMPULSO É VOAR"
(Helen Keller)

A COLECIONADORA DE DEZ

Tenho 13 anos. Brinco de boneca, mas quero saber que gosto tem um beijo de língua. Passo os dias arrumando minha casinha em miniatura, mas daria tudo para saber de que brincam os adultos nos limites de uma cama. Estudo muito...muito! Gosto de colecionar 10...No meu boletim tem carrerinhas de 10, 9 e 8 detesto, menos, nem em sonho! Em compensação no amor, colecionava zeros.. ou melhor "foras", a maioria platônicos, é verdade, mas somente zeros...se os juntasse todinhos, já davam pra fazer um colar de uma volta no pescoço.
Ele tinha 14 anos. Sentava na última fila. No fundo da sala de aula sentam os misteriosos. Aqueles que nunca fazem o tema ou estudam para as provas, eles precisam de tempo para desenvolver seus mistérios. Ele tocava violão de ouvido. Violão era o "RedBull" daquela época: te dava asas enquanto todos os outros guris só caminhavam! Ele jogava botão, jogava botão muito bem! Se os botões vestissem camisas ele seria o camisa 10 dos jogos de mesa...
Dez...meus olhinhos brilharam. Eu quero este dez pra mim! Este era o pingente que faltava para adornar o meu colar!
Tornei-me expert em jogos de botões. Daquele dia em diante todos os meus recreios se passariam ao redor de uma mesa de jogo. Que chatice aquelas partidas, mas a cada gol eu gritava com a mesma adrenalina de quem desce uma montanha-russa.
Ele me notou. Ele veio conversar comigo. Nós não paramos mais de falar um com o outro. Ele sempre me ensinando a jogar e eu nunca aprendendo para não perder o professor. Ele tocou para mim na saída da aula enquanto eu esperava minha mãe me buscar. Como eu rezei para o carro estragar, o pneu furar ou ela me esquecer na Escola naquele dia. Jurei que não teria nenhum trauma por isso. Ele sempre voltava a pé para casa!
Ele começou a faltar às aulas. Emagreceu. As maçãs do seu rosto devem ter caído de maduras. Ele raspou os cabelos. Continuamos conversando, mas nunca perguntei o que ele tinha. Ele desinteressou-se pelos botões. Precossemente, aposentou-se da música. Amadureceu num corpo verde de menino.
Passou 20 dias sem aparecer na Escola. Todos os dias a minha curiosidade apostava corrida com a tristeza, mas naquele dia, por fora veio a coragem e venceu. Levantei-me e fui perguntar a professora a resposta que eu já sabia. Porque eu não lhe avisei que a vida não era um adversário fácil. Marcou o único gol contra de sua carreira.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

CONSTRUINDO-SE...



A Oficina de Crônica foi muito bacana, aprender com que sabe e gosta de ensinar é muito bom.
O grupo era muito afinado. A "troca" foi enriquecedora...
Nunca tinha feito nenhuma. Pretendo fazer várias.

Uma das tarefas do sábado a noite, propostas pelo Fabricio Carpinejar seria escrever uma crônica para lê-la ao grupo no domingo.
Assunto: um sentimento e um objeto!
Pra mim tocou a Paixão....teve luxúria, generosidade, impetuosidade, cobiça....e outros tantos.
Parece mentira, mas não consegui produzir nada. Fiquei a noite toda pensando na paixão, no objeto e na relação entre os dois.
Escrevi uns três rascunhos: um sobre a paixão pela minha profissão (Fabrício me disse que este não valeria...era paixão homem-mulher, este seria descartado de início), outro sobre um relacionamento meu onde não consegui correlacionar com nenhum objeto e um último que falava de tudo, menos paixão.
Fiquei desapontada comigo mesma, afinal estava ali para aprender. Queria passar pelo crivo de todos e, principalmente, o dele!
No domingo quando ele me pediu para que eu lesse o que tinha escrito, respondi que nada, nem objeto achara.
Então, ele me perguntou à queima roupa: " Tu nunca tivestes uma paixão na vida?"
Neste exato minuto eu me lembrei da minha primeira paixão e de quanto um jogo de botões me fazia lembrar dela...
Estava feito o tema de casa...agora era só brincar com as palavras, como bem disse o Fabrício!

Bem.... uma coisa eu aprendi, eu não escrevo quando eu quero, são as palavras que me escrevem...
quando elas querem!

O FIM DO INÍCIO

Era um portão de ferro antigo. Bonito. Ele ficava no fim da rua, mas abria-se para o início! Ali dentro, o verde cegava. O silêncio era ensurdecedor. O ballet das borboletas começava a cada hora, se perdéssemos um, teria o próximo e próximo e o próximo.... os ingressos nunca acabavam! A construção era simples, mas o conforto era o Mário Quintana do INTEGRIA: hóspede cativo! Um lagarto cansado se arrastava. Acho que ele carregava a chave de todas as portas! A montanha imensa assustava e depois ela mesmo consolava. O refeitório era barrigudo. Asseado. Banhava-se todo dia em cravo, alecrim, canela ou manjerona. Seu humor escolhia o cheiro do dia. Ele gostava de fazer cócegas em nossos pés. Eu ria com a barriga! Na subida, a última goiabeira da direita, falava. Ela falava com o mundo, era única ali que tinha este poder. Ninguém a invejava. A noite, o poste era o luar. Eu caminhava sobre as estrelas. Sempre reto até as Três Marias, depois à esquerda até o Cruzeiro do Sul. Cuidado com as estrelas cadentes. Se divertem quando erramos o caminho. A noite, aqui, tem os barulhos dos contos de fadas. Deito . Durmo. Sonho. De manhã, o sol vem devagarinho e me puxa as cobertas. Aqui os despertadores tem asas. Aqui os dias se repetem sem nunca se repetir. Aqui plantei a minha primeira semente... Aqui quero voltar e repartir meus frutos!

Definitivamente eu não fui mais a mesma depois de sai de lá.
Algum dos meus portões abriu-se e eu me vi num início...
Inícios me encantam e, ao mesmo tempo, me assustam, mas eu vou,
dobrando estrelas.....quero ver onde esta minha rua vai dar!

ATALHOS


Sabe aqueles atalhos que a vida pega quando quer, "sutilmente", nos forçar a tomar um caminho?
Foi bem isso que aconteceu.
Inscrevi-me numa Oficina de Crônica com Fabrício Carpinejar, na serra gaúcha.
Depois disso, todas as peças se encaixaram: o local, a minha disponibilidade, a vontade, a curiosidade e, mais do que isso, o programa vinha ao encontro do que eu gosto muito de fazer...ESCREVER!
O lugar escolhido foi o INTEGRIA Centro de Vivências em Picada Café.

Um local muito lindo e, certamente, mágico...que eu, aí em cima, tento descrever....