Ontem fui à Campo Bom dar uma palestra sobre o meu trabalho: transmissão vertical do vírus HIV.
Trabalho com crianças com HIV/AIDS, e A-D-O-R-O o que faço.
Isso não faz tanto tempo assim... só 3 anos.
Trabalho há 20 anos na emergência de uma grande Hospital o que , sem dúvida nenhuma, me deu lastro para desenvolver este trabalho mais recente.
Fui conversar com professores da rede de ensino pública, especificamente, das escolas infantis e creches daquele Município.
Falei da transmissão do vírus de uma mãe HIV+ para o seu bebê, das maneiras de se prevenir que isso aconteça, da possibilidade impar da criança não se infectar com o vírus depois desta exposição, da experiência do meu ambulatório, das estatísticas do nosso serviço em Viamão, das nossas metas, mas o que mais grita, sempre, é o preconceito.
Este sim, penso eu, é a grande doença por trás da AIDS.
Ter um câncer é um diagnostico tão forte como ter AIDS, mas ninguem é segregado por ter câncer. E isso faz pensar...
O que me faz acolher um e desprezar o outro?
O que me faz justificar um e julgar o outro?
O que me faz absolver um e condenar o outro?
Aqui nós entramos... todos nós!
Quando eu me deparo com uma doença estigmatizante como a AIDS, quando ela vem para bem perto de mim, seja na sala de aula, seja na família, seja no trabalho... eu me confronto comigo mesmo. Eu me vejo no espelho... e quando eu me vejo no espelho...eu me enxergo.
Vejo como eu trabalho a minha própria sexualidade, como eu aceito a sexualidade do outro. Como eu me posiciono frente as escolhas sexuais de cada um, frente ao uso de drogas, frente à maternidade, ao planejamento familiar, frente ao outro, enfim... frente a uma infinidade de assuntos. Nem sempre as pessoas querem se ver!
É melhor ficar com aquela imagem cristalizada que temos de nós mesmos. É melhor que todos pensem que somos sempre bons, que não temos raiva, que não julgamos, que aceitamos tudo, que não sabemos magoar, não machucamos ninguém!
Por isso é mais conveniente deixar a AIDS bem distante, como um espelho na porta do guarda-roupa. Porta sempre fechada, é claro!
... mas estas portas têm que se abrir e estes espelhos aparacerem! Inicialmente os reflexos vão nos segar... mas aos poucos vamos nos acostumando com a luz, até ela não nos incomodar mais.
Respeito!
Respeito, acho que é o grande antídoto para todo este mal.
Respeito que é réu... não, juíz;
Respeito que é aluno... não, mestre;
Respeito que é ouvido... não, boca;
Respeito que é beijo... não, aperto de mão;
Voltei de lá feliz.
Feliz com a oportunidade.
Feliz com a troca.
Todo o CAMPO é SEMPRE BOM para se plantar sementes!
Germinando duas, três... já valida o plantio, já garante a colheita!
Bacana tuas palavras... Sinto-me um pouco integrante dessa caminhada, que busca construir um pensamento diferente a respeito do nosso trabalho... Bjos
ResponderExcluirCom certeza estamos todos neste barco!
ResponderExcluirObrigada pelo carinho de sempre!
Bjs.