sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sementes...

Ontem fui à Campo Bom dar uma palestra sobre o meu trabalho: transmissão vertical do vírus HIV.
Trabalho com crianças com HIV/AIDS, e A-D-O-R-O o que faço.
Isso não faz tanto tempo assim... só 3 anos.
Trabalho há 20 anos na emergência de uma grande Hospital o que , sem dúvida nenhuma, me deu lastro para desenvolver este trabalho mais recente.
Fui conversar com professores da rede de ensino pública, especificamente, das escolas infantis e creches daquele Município.
Falei da transmissão do vírus de uma mãe HIV+ para o seu bebê, das maneiras de se prevenir que isso aconteça, da possibilidade impar da criança não se infectar com o vírus depois desta exposição, da experiência do meu ambulatório, das estatísticas do nosso serviço em Viamão, das nossas metas, mas o que mais grita, sempre, é o preconceito.
Este sim, penso eu, é a grande doença por trás da AIDS.
Ter um câncer é um diagnostico tão forte como ter AIDS, mas ninguem é segregado por ter câncer. E isso faz pensar...
O que me faz acolher um e desprezar o outro?
O que me faz justificar um e julgar o outro?
O que me faz absolver um e condenar o outro?
Aqui nós entramos... todos nós!
Quando eu me deparo com uma doença estigmatizante como a AIDS, quando ela vem para bem perto de mim, seja na sala de aula, seja na família, seja no trabalho... eu me confronto comigo mesmo. Eu me vejo no espelho... e quando eu me vejo no espelho...eu me enxergo.
Vejo como eu trabalho a minha própria sexualidade, como eu aceito a sexualidade do outro. Como eu me posiciono frente as escolhas sexuais de cada um, frente ao uso de drogas, frente à maternidade, ao planejamento familiar, frente ao outro, enfim... frente a uma infinidade de assuntos. Nem sempre as pessoas querem se ver!
É melhor ficar com aquela imagem cristalizada que temos de nós mesmos. É melhor que todos pensem que somos sempre bons, que não temos raiva, que não julgamos, que aceitamos tudo, que não sabemos magoar, não machucamos ninguém!
Por isso é mais conveniente deixar a AIDS bem distante, como um espelho na porta do guarda-roupa. Porta sempre fechada, é claro!
... mas estas portas têm que se abrir e estes espelhos aparacerem! Inicialmente os reflexos vão nos segar... mas aos poucos vamos nos acostumando com a luz, até ela não nos incomodar mais.
Respeito!
Respeito, acho que é o grande antídoto para todo este mal.
Respeito que é réu... não, juíz;
Respeito que é aluno... não, mestre;
Respeito que é ouvido... não, boca;
Respeito que é beijo... não, aperto de mão;

Voltei de lá feliz.
Feliz com a oportunidade.
Feliz com a troca.
Todo o CAMPO é SEMPRE BOM para se plantar sementes!
Germinando duas, três... já valida o plantio, já garante a colheita!

2 comentários:

  1. Bacana tuas palavras... Sinto-me um pouco integrante dessa caminhada, que busca construir um pensamento diferente a respeito do nosso trabalho... Bjos

    ResponderExcluir
  2. Com certeza estamos todos neste barco!
    Obrigada pelo carinho de sempre!
    Bjs.

    ResponderExcluir

"Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..."
(Cecília Meireles)

Que bons ventos te tragam mais vezes!