
Entro na sala escura que tapa os ouvidos para não escutar meus passos.
Sento no corredor, última fila.
Ela me empresta seus olhos...
Hoje em cartaz: “CAMINHANDO NAS NUVENS”!
Esqueço-me do mundo e entro no filme.
Vivo todos os seus personagens:
Sou a mocinha, filha desiludida, que preza a família, tem muitos sonhos e ainda acredita no amor;
Sou o pai que ama seus filhos, dá-lhe o sustento, ensina valores, erra e volta atrás;
Sou o avô que não deixa o passado morrer;
Sou a mãe que cede a cama para a primeira noite da filha, cobre de lençóis de seda e deixa uma rosa no travesseiro;
Sou a avó que perdoa mãe e perdoa filha;
Sou o mocinho de coração transparente, que não tem família, mas que faz serenata e se rende, novamente, ao amor;
Sou a família sentada em volta da mesa;
Sou os parreirais plantados um a um ao longo dos anos;
Sou o fogo, sou o incêndio, sou a destruição;
Sou o broto que restou inteiro e refará o todo;
Acendem-se as luzes...
Sendo eu mesma...
Enxergando com meus próprios olhos...
Em busca de um amor que me leve para caminhar nas nuvens...
Que alimente meu fogo abanando asas de borboletas...
Que colha minha uvas e as amasse, carinhosamente, com seus pés
Para depois embriagar-se com meu vinho a cada anoitecer!