sábado, 21 de março de 2009

MIUDEZAS!


Hoje fiz uma coisa que adoro fazer: tomar café da manhã no Mercado Público. Geralmente faço isso aos sábados, depois de sair do meu plantão noturno. Chego cedo, as bancas ainda estão sendo arrumadas. Gosto de presenciar esta muvuca matinal. As frutas e as verduras sendo repostas fresquinhas e perfiladas à regua. Especiarias e temperos de todos os tipos perfumando o local. Dezenas de bancas com tudo que o mais sofisticado gourmet pudesse sonhar encontrar. Mercadorias para todos os bolsos. Pessoas para todos os olhos.
Aquilo lá é um mundo à parte.
Aquilo lá é um mundo para quem se dispor a observar.
Sento naquela mesinha de mármore pequena e marcada pelo tempo da Banca 40, peço uma salada de frutas com sorvete e me delicio em pensamentos e gostos. Nenhum dos meus 5 sentidos passa fome ali. Olho aquele que passa apressado e imagino onde será que ele vai; vejo aquela cheia de sacolas e penso o que ira fazer com aquilo tudo; vejo o que aruma a banca e penso se é feliz fazendo o que faz; vejo o que passa triste de cabeça baixa; vejo os que riem alto; vejo os que passam juntos de mãos dadas e os que mesmo juntos, andam separados; vejo crianças com seus olhinhos brilhando; vejo os idosos com passinho arrastado.
Como ficar indiferente à tudo isso.
Impossível.
Talvez aí esteja a diferença dos que fazem tudo que tem que ser feito todos os dias e dos que fazem a mesma coisa todos dias parecer diferente. A rotina é um rolo-compressor. Esmaga o detalhe, esmaga a observação, esmaga o sentido das pequenas coisas.
Quando eu deixo de perceber as filigranas eu não reconheço mais o valor da peça. E quando algo perde o valor, perde a importância e, consequentemente, eu me desinteresso.
Assim são os relacionamentos. Quando eu deixo de reparar os detalhes eu perco o valor do todo. Quando eu não consigo mais entender as mensagens subliminares do amor eu não reconheço mais seu valor e me desinteresso.
E desinteresse no amor é distância.
E distância no amor é indiferença e... indiferança no amor é o vácuo nos relacionamentos!
Quando a mesa posta para o café não mais se traduz em carinho; quando o sanduíche preparado com antecedência não vem com algo mais do que pão, queijo e presunto; quando o bilhetinho na porta da geladeira só transmite o recado puro e seco; quando o beijo fica no piloto-automático; quando a camisola nova é reconhecida simplesmente como um gasto extra; quando o telefonema é visto como fiscalização; quando a falta é sentida como cobrança; quando o trabalho compensa o que o amor deveria suprir... o amor caiu no vácuo!
O amor até sobrevive no vácuo, mas não se sustenta!
Morre-se de fome no vácuo. Mingua-se aos poucos.
Para se viver um amor no dia-a-dia é preciso valorizar as miudezas.
Valorizar as miudezas no amor é cultivar a sua grandeza!

5 comentários:

  1. Wania querida, onde andava escondida essa escritora fantástica, que traduz em palavras o sentimento da gente?
    Estás a cada dia melhor,sinto muito prazer em ler-te!
    Beijo

    ResponderExcluir
  2. Ai, Amiga... assim tu me encabula!
    Tua opinião tem muito peso pra mim.
    Obrigada pelo incentivo e deixa eu te confessar uma coisa: estou amando escrever aqui!
    Uma semana iluminada pra ti.
    Bjs.

    ResponderExcluir
  3. Adorei Wania! Transmitiu um sentimento muito bom, me transportou de tal modo que pude sentir o que tu sentiu. A leitura deslizou. Abraço e até mais!

    ResponderExcluir
  4. Oi, Marcelo. Que retorno gratificante saber isso de ti!
    Obrigada pelo carinho de sempre! É muito bom te ter como amigo e melhor ainda é te ter como colega de aula...
    A POESIA que se cuide... Picada Café vai ser fichinha.....rsrsrs!
    Bjs e até próxima segunda!

    ResponderExcluir
  5. Rsrsrsrs! Picada Café vai ser fichinha! Boa essa! Também acho que será! Encontrar o carpinejar sempre está longe de fichinhas. O sentimento é recíproco. Bj e até a próxima.

    ResponderExcluir

"Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..."
(Cecília Meireles)

Que bons ventos te tragam mais vezes!