Toda terça eu vou à Paris. Vou e volto de Paris, toda terça. Faço mala pequena. Única vez na vida que eu consigo fazer uma mala pequena é quando vou à Paris, toda terça. Vou de excurssão. Odeio excurssão, mas esta é a única que gosto, a que vai para Paris toda terça. Nesta viagem preciso de guia. Perde-se o encanto sem ele. Ele é que sabe nos mostrar toda cidade.
O vôo sai sempre no horário. O concorde bate recordes sobre ele mesmo, uns 35 minutos e já aterriso no Charles de Gaulle. A alfândega nunca me barra, já tenho visto permanente, afinal quem vai à Paris toda terça já é cidadão parisiense.
Enquanto passeio por Paris vou sendo apresentado às palavras. São tantas que tenho que voltar à Paris várias vezes para conhecê-las. Seus sons me encantam. As palavras francesas tem asas. O guia sabe fazê-las voar como ninguém. Toda vez que pronuncio uma, subo na Torre Eiffel. Quando as digo lá de cima elas vão mais longe. Elas gostam de saltar de lá.
Aprendo os verbos e as conjugações na Champs-Élysées. São tantas lojas quanto existem verbos em francês. Os verbos em francês tem classe, assim com as lojas. Para pronunciá-los só de salto alto. Eles sabem disso, todos tem o nariz em pé.
Em Montmartre aprendo os adjetivos , os advérbios e as cores. Preciso de tantos para descrever esse lugar que acabo aprendendo tudo de uma única vez. Do alto, a Sácre-Coeur abençoa as palavras. Benditas palavras francesas. Penso que esta tarefa não é só dela, os Deuses ainda passam por lá para ajudá-la. O ar lá em cima é mais leve e tem cor. À medida que passa pelos nossos pulmões, nos colori por dentro. Ninguém sai preto e branco de lá. Nem as palavras. Ninguém sai de lá sem sabê-las de cor.
Aprendo os números, os meses, os anos e as estações no Louvre. Percorro uma linha do tempo de palavras. Quanta riqueza num só lugar. Vou do Egito antigo ao Renascimento subindo dois lances de escadas. Aprendo o significado do passado lendo o presente.
O relógio do Museu D’Orsay me ensina as horas. Nunca é tarde para aprender!
Faço intervalo nos Jardins de Luxemburgo. Aqui 15 minutos viram horas. Seja o que for que eu coma, o lanche sempre tem gosto de baguete. As palavras em francês tem gosto...gosto de queijo. São tantos os tipos quantos são os gostos das palavras francesas. Descubro-as com a mesma alegria de quem abre um mini babybel. Dá água na boca pronunciá-las!
Aprendo a negação e os pronomes nas Galerias Lafayette. Aqui se aprende na marra! Um sim dito aqui sai muito caro! E o caro aqui é em euros.
A viagem acaba no Arco do Triunfo. Muitas coisas convergem para lá. Avenidas, sonhos, vontades e palavras. Como é bom aprender francês toda terça-feira!
Au revoir, Paris!
À mardi prochain!
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"Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..."
(Cecília Meireles)
Que bons ventos te tragam mais vezes!